Sobre as músicas do blog... Não devem ser consideradas simples "fundos musicais" para os textos... Foram escolhidas com carinho e apreço, dentre o que há de melhor... São verdadeiras jóias que superam em muito os textos deste humilde escrevinhador... Assim, ao terminar de ler certo texto, se houver música na postagem, termine de ouví-la, retorne, ouça-a novamente se toda atenção foi antes dedicada ao texto... "interromper uma bela música é como interromper uma boa foda... Isso não se faz!..." Por último, se você conhece uma música que, na sua opinião, combina melhor com o texto, não deixe de enviar sua sugestão...

Ser finória...


Música deste post (é bem melhor com música):"Estate". Composição de Bruno Martino, letra de Bruno Brighetti. Interpretação: Chet Baker – trompete,Philip Catherine – guitarra, Jean-Louis Rassinfosse – baixo.





'Woman Lying on Canvas' - Ismene Daskarolis - 2010 - Tecnica mista

Ser finória...

Não fosse meu senso de lógica e consciência de que minhas experiências não retratam sequer infinitesimal parte do que há de ser compreendido como comportamento humano normal, afirmaria serem, todas as mulheres, finórias...

Ser “finório” é ser esperto, ladino, manhoso, sagaz. É valer-se de astúcia enganosa mediante a aparência da ingenuidade...

Há, aqui no blog, em “textos de outros escritores”, um bem conhecido que fala a respeito de “outro tipo de mulher nua”... A mulher que insiste em escamotear seus atos, suas experiências... Parece-me que há uma espécie de latente desejo mórbido em se fazer de ingênua, simular, dissimular: a mulher se despe, se arregaça. mostra e dá seu sexo, mas não abre seus sentimentos, tampouco expõe seus feitos... O que foi, o que fez, o que realmente pensa e deseja... É como se em cada mulher repousasse uma puta que tem medo de deixar de ser considerada ao ter o passado descoberto... Acaso putas não merecem consideração?

Se, no entanto, essa condição afigura-se como inata à mulher, com o que se é inteiramente possível conviver, ela se agrava na medida em que a mulher, e aí é preciso convir que nem todas, “trabalha por debaixo da mesa”, a falar, dizer e fazer coisas que, “elas sabem”, se forem pegas, magoarão muito mais do que a simples infidelidade — há várias formas de infidelidade... Mas, ilógica e irracionalmente, fazem mesmo assim...

E há aquelas, e também aqueles, porque se vê esse comportamento em homens também, que, com o fito exclusivo de ilidir os opróbrios cometidos, que as vezes nem chegam a tanto, porém assim pensam, atribuem qualidades e defeitos ao outrem, como se isso, de per si, bastasse para justificar suas ignomínias...

Ora, só os idiotas imaginam que verdades repousam nas versões que lhes chegam. Seja lá sobre o que for... Há, pois, de tudo, no mínimo duas versões: a contada e a verdadeira... Dizia certo amigo, três versões; incluía, aí, a versão “do outro lado” também... Fato é que dificilmente a verdade se coaduna inteiramente com as versões apresentadas; por isso há sempre uma “outra versão”...

Mas no caso da mulher, há, assim, uma espécie de “quarta versão”, que não é a verdadeira, porque esta ela sabe qual é — e por vezes nós também —, tampouco é a “versão dela”, isto é, aquela que conta para as amigas e até para a polícia se for o caso... A “quarta versão” é aquela que ela “quer que acreditemos” quando ela quer se dar, quer se entregar; não digo isso no sentido estrito do sexo; todos nós, em algum momento, desejamos nos entregar "de corpo e alma". Esta é a versão que exacerba a “finoriedade” feminina, onde ela sabe que sabemos que não pode ser, que não é a verdade, mas insiste em assim colocar...

E o homem que ama, ou mesmo aquele que só quer cama, porque nesse ponto não faz diferença — as mulheres na condição exposta tratam a todos do mesmo jeito —, tem que se colocar como crente; não pode jamais indagar sobre “a verdade”, ou “verdades”.... Nada de arguir sobre aquelas “verdades verdadeiras”... Isso seria tirar-lhes a condição de Pandora... Se as mulheres passassem a responder, deixariam de ser finórias”... Condição que se aparenta tão boa... Só verdades verdadeiras... Mas, a bem da verdade — outra —, não sei se conseguiríamos conviver com elas...

Assim posto, como disse de início, isso tudo é só impressão, que meu senso lógico impede conjecturar, como aplicável ou sequer teorizável... Mas não de fazer provocação...

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Excepcionalmente abordo o fato de que na pesquisa da imagem para este post duas outras figuras pareceram-me apropriadas. Como parte da provocação apresento-as abaixo e deixo, ao caro leitor, o exercício de julgar minha escolha e elucubrar as razões desta, assim como das demais figuras selecionadas.


 

Woman in a box' - 2007 -
Helene Lopes Codrescu - óleo sobre tela


'Woman in church' - 2010 -
Sergey Ignatenko - óleo sobre tela



"O coração tem suas razões, que a própria razão desconhece".
"Le cœur a ses raisons que la raison ne connaît point"

Blaise Pascal in "Les Pensées",
muitas vezes erroneamente atribuído a Willian Shakespeare.
 
 Rendo especial homenagem, neste post, para: 
 
Blase Pascal - Polímata
Chet Baket - Trompetista


Um comentário:

  1. Não vou aqui sair em defesa das mulheres, porque como bem o disseste no trecho:" e aí é preciso convir que nem todas..". Esse é um texto que abre precendentes para uma vasta discussão, porém deixo aqui,como referência à sua verdade um poema de Drummond que acho muito interessante:

    A porta da verdade estava aberta,
    Mas só deixava passar
    Meia pessoa de cada vez.
    Assim não era possível atingir toda a verdade,
    Porque a meia pessoa que entrava
    Só trazia o perfil de meia verdade,
    E a sua segunda metade
    Voltava igualmente com meios perfis
    E os meios perfis não coincidiam verdade…
    Arrebentaram a porta.
    Derrubaram a porta,
    Chegaram ao lugar luminoso
    Onde a verdade esplendia seus fogos.
    Era dividida em metades
    Diferentes uma da outra.
    Chegou-se a discutir qual
    a metade mais bela.
    Nenhuma das duas era totalmente bela
    E carecia optar.
    Cada um optou conforme
    Seu capricho,
    sua ilusão,
    sua miopia.

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